quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CINEMA E PESSOA COM DEFICIÊNCIA - PARTE 1

Um entretenimento ainda muito valorizado nos nossos dias, o cinema pode ser também uma forma de nos possibilitar o acesso à discussões e reflexões a cerca da inclusão e da desmistificação do papel social atribuído à pessoa que tem algum tipo de deficiência.
 É nessa perspectiva que nós da disciplina Psicologia e Diversidade (pessoa com deficiência) convidamos você a também entrar nesse desafio conosco, assistir alguns filmes e se permitir alargar suas percepções a cerca do lugar construído socialmente para pessoas que por algum motivo saem do padrão físico/intelectual e acabam perdendo também a possibilidade de serem alguém além da sua visível "incapacidade". 



·                    LUA DE FEL

Um casal de ingleses, Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas), embarcam num cruzeiro marítimo onde conhecem a sensual Mimi (Emmanuelle Seigner), uma francesa casada com o americano Oscar (Peter Coyote), homem preso a uma cadeira de rodas. Ao notar o interesse que Nigel sente por Mimi, Oscar resolve contar sua história com ela, como se conheceram e se amaram loucamente até a paixão doentia se transformar em um ritual de humilhação.


O filme retrata um romance inicialmente ardente, repleto de desejo e paixão. Com o passar do tempo, essa relação vai se mostrando cada vez mais doentia, perigosa, perversa e humilhante. No desenrolar da história, Oscar, personagem cadeirante, conta a sua história de vida a Nigel, que estaria interessado em Mimi, esposa de Oscar.
O fato deter se tornado cadeirante fez dele uma pessoa amarga, instável emocionalmente, perverso e sádico. Em alguns pontos do filme ficam evidentes ações perversas, pois Oscar e Mimi gozam em ver o espanto e a humilhação no semblante de Nigel, ao ouvir relatos do relacionamento conturbado deles. 
É evidente também, que Oscar se tornou extremamente infeliz devido à sua nova condição de existência, sobre uma cadeira de rodas e dependente de Mimi, que não poupava esforços para humilhá-lo e faze-lo sofrer.
Antes de tornar-se cadeirante, Oscar costumava curtir muito a vida, e após a lesão medular, essa deixou de ser sua realidade, causando angústia, tristeza e sofrimento.
Os estereótipos sociais, o olhar piedoso, a discriminação, entre outros fatores, são relevantes na auto aceitação e na auto-imagem que o cadeirante constrói. Se ele é visto como o coitado, incompetente e incapaz de realizar tarefas cotidianas, é possível que essas ideias sejam absorvidas, ao ponto de ele realmente acreditar que é um inválido, e desenvolver problemas de ordem psicológica. Daí a importância da conscientização social em relação ao tema “deficiência”, pois é algo que existe que está posto entre nós, e não podemos fingir que essas pessoas não existem, ou que simplesmente não merecem um tratamento igualitário.

Como é ilustrado no filme, nem todos conseguem conviver bem com a deficiência e as limitações impostas por ela, assim como ocorre com as pessoas sem deficiência. Nem todos se aceitam como são, e aí entra o papel fundamental dos cidadãos e do psicólogo, de tornar a vida das pessoas menos sofrida e dolorosa. Viver precisa ser uma condição saudável.









·                    MEU PÉ ESQUERDO

A história real de Christy Brown (Daniel Day-Lewis), o filho de uma humilde família irlandesa, nasce com uma paralisia cerebral que lhe tira todos os movimentos do corpo, com a exceção do pé esquerdo. Com apenas este movimento Christy consegue, no decorrer de sua vida, se tornar escritor e pintor. Christy Brown nasceu em 5 de junho de 1932 e faleceu em 7 de setembro de 1981. Casou-se com sua enfermeira, Mary Car, em 5 de outubro de 1972.

O filme mostra uma linda história de superação das dificuldades impostas pela vida, desde o nascimento de Christy Brown. Christy cresceu em uma família pobre, e, devido à sua deficiência, provavelmente não era motivo de orgulho para o pai. Sua mãe, no entanto, sempre se dedicou a cuidar dele, de modo a lhe proporcionar a melhor vida possível, em termos de conforto e educação.
Em diferentes épocas da história da sociedade pode-se observar o choque que os pais experienciam ao receber a notícia de que o filho possui uma deficiência. Ninguém deseja um filho deficiente, e quando essa realidade bate à porta, é como se os pais ficassem sem chão por algum tempo. Só depois é que conseguem lidar com a situação e entendem que a deficiência não vai desaparecer. Portanto, devem tentar cuidar da maneira mais adequada possível ao desenvolvimento saudável do filho.
Sem dúvida, o olhar da mãe para o filho é importantíssimo, Christy é visto pela mãe como uma pessoa, um filho e não simplesmente como um peso, uma “obrigação”, e isso lhe faz toda diferença. E é com ela que ele tem a oportunidade aprender a ler as primeiras letras e ampliar seu mundo, porque antes de tudo, ela acredita que ele merecia ser feliz. É a mãe também que aproxima de Christy a possibilidade de tratamentos que lhe desenvolverão possibilidades como a de falar, uma vez que inicialmente só a mãe compreendia a sua voz. É perceptível que sua mãe, em momento algum deseja desesperadamente sua cura, ela apenas lhe possibilita existir naquela condição, sem cobranças excessivas.
A relação de Christy com os irmãos é relativamente tranquila. Isso fica comprovado em algumas cenas do filme, porém, muitas vezes os amigos tentam humilhá-lo, o tratam de forma preconceituosa e discriminatória, ao invés de tentarem praticar a inclusão, tratando-o bem e de maneira igualitária. 
O fato de apenas possuir controle do movimento do pé esquerdo não diminuía em nada a sua inteligência. Ele aprendeu a escrever e também desenvolveu trabalhos com pintura. A partir do momento que suas habilidades começam a se revelar, o pai passa a se orgulhar dele. Isso evidencia o preconceito proveniente do próprio pai, pois ele fica surpreso pelo fato de o filho ser inteligente e talentoso, escancarando a sua visão anterior, de que Christy era incapaz e improdutivo.
Essa visão de que a pessoa com deficiência é improdutiva está arraigada em nossa sociedade, e constitui um sério problema social, numa época em que tanto se fala de inclusão da pessoa com deficiência. A inclusão precisa sim ser realizada, mas desde que não exclua ao tentar incluir. Um exemplo dessa falsa inclusão são as cotas para pessoas com deficiência nas empresas, ou banheiros especiais em locais onde, fisicamente,a separação dos outros banheiros é desnecessária. Incluir vai muito além de oferecer um emprego por obrigação. É olhar o próximo com respeito e enxergar um ser humano antes de enxergar uma deficiência, uma incapacidade ou alguém digno de compaixão, é um alguém, simplesmente uma pessoa!
O filme se encerra mostrando que, apesar das dificuldades impostas pela deficiência, Christy é reconhecido socialmente pelo seu trabalho e consegue viver um grande amor. Isso nos leva a refletir sobre como a vontade de viver é essencial na vida de qualquer pessoa para que ela seja feliz.
Para que alguém portador de uma deficiência se destaque socialmente, ele, antes de tudo, tem que provar seu talento, suas habilidades extra, isso legitima mais ainda a grande dívida social que se tem com a pessoa com deficiência, ou seja, “simplesmente ser” não basta, cobramos que esse alguém consiga provar aptidões a mais que qualquer um para ser visto.
É um ótimo filme, recebeu muitas indicações e prêmios, não apenas pela temática, mas pela qualidade em si da obra, sensível e ao mesmo tempo cruciante. Imerso no personagem, Daniel Day-Lewis permanecia na cadeira de rodas mesmo durante os intervalos das filmagens, o esforço excessivo o fez quebrar duas costelas.



Equipe: Fabiana Miranda, Fabrício Magalhães, Grécia Nonato, Lorena Tínel e Mariany Carneiro

"Cinema é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa alma". (Ingmar Bergman)

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