Um
entretenimento ainda muito valorizado nos nossos dias, o cinema pode
ser também uma forma de nos possibilitar o acesso à discussões e
reflexões a cerca da inclusão e da desmistificação do papel social
atribuído à pessoa que tem algum tipo de deficiência.
É
nessa perspectiva que nós da disciplina Psicologia e Diversidade
(pessoa com deficiência) convidamos você a também entrar nesse desafio
conosco, assistir alguns filmes e se permitir alargar suas
percepções a cerca do lugar construído socialmente para pessoas que por
algum motivo saem do padrão físico/intelectual e acabam perdendo também
a possibilidade de serem alguém além da sua visível "incapacidade".
·
LUA DE FEL
Um casal de ingleses, Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas),
embarcam num cruzeiro marítimo onde conhecem a sensual Mimi (Emmanuelle
Seigner), uma francesa casada com o americano Oscar (Peter Coyote), homem preso
a uma cadeira de rodas. Ao notar o interesse que Nigel sente por Mimi, Oscar
resolve contar sua história com ela, como se conheceram e se amaram loucamente
até a paixão doentia se transformar em um ritual de humilhação.
O
filme retrata um romance inicialmente ardente, repleto de desejo e paixão. Com
o passar do tempo, essa relação vai se mostrando cada vez mais doentia,
perigosa, perversa e humilhante. No desenrolar da história, Oscar, personagem
cadeirante, conta a sua história de vida a Nigel, que estaria interessado em
Mimi, esposa de Oscar.
O
fato deter se tornado cadeirante fez dele uma pessoa amarga, instável
emocionalmente, perverso e sádico. Em alguns pontos do filme ficam evidentes
ações perversas, pois Oscar e Mimi gozam em ver o espanto e a humilhação no
semblante de Nigel, ao ouvir relatos do relacionamento conturbado deles.
É
evidente também, que Oscar se tornou extremamente infeliz devido à sua nova
condição de existência, sobre uma cadeira de rodas e dependente de Mimi, que
não poupava esforços para humilhá-lo e faze-lo sofrer.

Os
estereótipos sociais, o olhar piedoso, a discriminação, entre outros fatores,
são relevantes na auto aceitação e na auto-imagem que o cadeirante constrói. Se
ele é visto como o coitado, incompetente e incapaz de realizar tarefas
cotidianas, é possível que essas ideias sejam absorvidas, ao ponto de ele
realmente acreditar que é um inválido, e desenvolver problemas de ordem
psicológica. Daí a importância da conscientização social em relação ao tema
“deficiência”, pois é algo que existe que está posto entre nós, e não podemos
fingir que essas pessoas não existem, ou que simplesmente não merecem um
tratamento igualitário.

·
MEU
PÉ ESQUERDO
A história real de Christy Brown (Daniel
Day-Lewis), o filho de uma humilde família irlandesa, nasce com uma paralisia
cerebral que lhe tira todos os movimentos do corpo, com a exceção do pé
esquerdo. Com apenas este movimento Christy consegue, no decorrer de sua vida,
se tornar escritor e pintor. Christy Brown nasceu em 5 de junho de 1932 e
faleceu em 7 de setembro de 1981. Casou-se com sua enfermeira, Mary Car, em 5
de outubro de 1972.
Assista completo em: http://www.youtube.com/watch?v=MsLh_rcp2TQ
O
filme mostra uma linda história de superação das dificuldades impostas pela
vida, desde o nascimento de Christy Brown. Christy cresceu em uma família
pobre, e, devido à sua deficiência, provavelmente não era motivo de orgulho
para o pai. Sua mãe, no entanto, sempre se dedicou a cuidar dele, de modo a lhe
proporcionar a melhor vida possível, em termos de conforto e educação.
Em
diferentes épocas da história da sociedade pode-se observar o choque que os
pais experienciam ao receber a notícia de que o filho possui uma deficiência.
Ninguém deseja um filho deficiente, e quando essa realidade bate à porta, é
como se os pais ficassem sem chão por algum tempo. Só depois é que conseguem
lidar com a situação e entendem que a deficiência não vai desaparecer. Portanto,
devem tentar cuidar da maneira mais adequada possível ao desenvolvimento
saudável do filho.
A
relação de Christy com os irmãos é relativamente tranquila. Isso fica comprovado
em algumas cenas do filme, porém, muitas vezes os amigos tentam humilhá-lo, o
tratam de forma preconceituosa e discriminatória, ao invés de tentarem praticar
a inclusão, tratando-o bem e de maneira igualitária.
O
fato de apenas possuir controle do movimento do pé esquerdo não diminuía em
nada a sua inteligência. Ele aprendeu a escrever e também desenvolveu trabalhos
com pintura. A partir do momento que suas habilidades começam a se revelar, o
pai passa a se orgulhar dele. Isso evidencia o preconceito proveniente do
próprio pai, pois ele fica surpreso pelo fato de o filho ser inteligente e
talentoso, escancarando a sua visão anterior, de que Christy era incapaz e
improdutivo.
Essa
visão de que a pessoa com deficiência é improdutiva está arraigada em nossa
sociedade, e constitui um sério problema social, numa época em que tanto se
fala de inclusão da pessoa com deficiência. A inclusão precisa sim ser
realizada, mas desde que não exclua ao tentar incluir. Um exemplo dessa falsa
inclusão são as cotas para pessoas com deficiência nas empresas, ou banheiros
especiais em locais onde, fisicamente,a separação dos outros banheiros é
desnecessária. Incluir vai muito além de oferecer um emprego por obrigação. É
olhar o próximo com respeito e enxergar um ser humano antes de enxergar uma
deficiência, uma incapacidade ou alguém digno de compaixão, é um alguém,
simplesmente uma pessoa!
O
filme se encerra mostrando que, apesar das dificuldades impostas pela
deficiência, Christy é reconhecido socialmente pelo seu trabalho e consegue
viver um grande amor. Isso nos leva a refletir sobre como a vontade de viver é essencial
na vida de qualquer pessoa para que ela seja feliz.
Para
que alguém portador de uma deficiência se destaque socialmente, ele, antes de
tudo, tem que provar seu talento, suas habilidades extra, isso legitima mais
ainda a grande dívida social que se tem com a pessoa com deficiência, ou seja, “simplesmente
ser” não basta, cobramos que esse alguém consiga provar aptidões a mais que
qualquer um para ser visto.
É um ótimo filme, recebeu muitas indicações e
prêmios, não apenas pela temática, mas pela qualidade em si da obra, sensível e
ao mesmo tempo cruciante. Imerso no personagem, Daniel Day-Lewis permanecia na
cadeira de rodas mesmo durante os intervalos das filmagens, o esforço excessivo
o fez quebrar duas costelas.
Equipe: Fabiana Miranda, Fabrício Magalhães, Grécia Nonato, Lorena Tínel e Mariany Carneiro
"Cinema
é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa
consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos
sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa
alma". (Ingmar Bergman)
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