quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

RELATO DE EXPERIÊNCIA EM TURMA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA



Esse relato é fruto da experiência de regência, do estágio supervisionado da disciplina de Prática de Ensino I, do Curso de Licenciatura em Artes Visuais, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Juazeiro, Bahia. O Projeto foi construído para ser aplicado em uma escola municipal de Juazeiro/BA, para a turma de 2º ano do Fundamental I.
Como a disciplina em questão é artes, um dos conteúdos escolhidos para o projeto “Arte em cores” foi: cores. Pesquisei na internet histórias curtinhas que falassem sobre cores primárias e secundárias, dente elas selecionei para a primeira aula “Jardim das Cores” de Guilherme Reis. Preparei fichas com perguntas a respeito do filme e para finalizar os alunos deveriam produzir um desenho livre utilizando a cor que eles mais gostassem. Tudo daria certo, visto que havia aplicado a referida aula para as minhas sobrinhas de 4 e 8 anos e foi um sucesso.
Cheguei entusiasmada para o meu primeiro dia de regência, montei os equipamentos (notebook, data show), expliquei a sequência das atividades e comecei a aula. Ao iniciar a exibição do filmes, alunos estavam bastante concentrados. Olhei para cada um deles com orgulho, tamanho o silêncio e a atenção que despendiam para a atividade proposta, sem burburinhos, apenas a melodia que acompanhava o desenrolar da narrativa.
 Nessa observação me deparei com uma situação constrangedora, um aluno que aqui o chamarei de João, buscava ansiosamente o que se passava, ouvia atentamente à melodia, como se procurasse alguma verbalização que o levasse a compreender o que estava acontecendo, percebi então que no desejo de fazer algo criativo, lúdico de modo a envolver todos os alunos eu havia cometido o maior ato de exclusão de minha vida. O aluno em questão era cego.

Como os alunos pediram para reproduzir novamente o filme, prontamente obedeci, visto que não sabia o que fazer diante de tal fato. Nesse momento veio uma enxurrada de questionamentos: Porque não me lembrei de João? O que ele estaria sentindo? O que estava passando pela cabeça dele? A única certeza que eu tinha é de que não poderia chorar muito menos sair correndo de modo a causar o mínimo de impacto possível. Nesses aproximadamente sete minutos e meio de exibição, além dos questionamentos que me fiz a cerca do meu planejamento, dos meus valores e de como a criança estaria se sentindo pensei ainda em como resolver tal situação.
Como a atividade proposta seria realizada em grupo, ao final da reprodução pedi que os membros do grupo dele contassem a historia, no entanto não foi possível visto que o lanche foi servido e os alunos saiam da sala, então eu mesma resolvi contar a história para ele.
Ao passo que contava, percebia no semblante dele uma tristeza que não saberia descrever aqui, talvez porque ele perdera a visão recentemente devido ao tumor no cérebro ou porque tinha apenas nove anos e não compreendia o porquê isso tinha acontecido. Provavelmente, ele deve ter feito a si mesmo muitas perguntas assim como eu e, nesse silêncio, eu também não saberia responder.
Prossegui a aula conforme o planejado. Ele ficou sentado com os coleguinhas, sem poder participar muito, embora eu tivesse contado a história na sequência que apresentava no vídeo. Terminei a aula entregando folhas de ofício para que desenhassem livremente usando a cor que mais gostavam. Para todos os professores a aula é considerada completa quando todos os objetivos são alcançados, no entanto, naquele momento eu preferi que não tivesse alcançado nenhum objetivo, mas que tivesse contemplado esse aluno.
Hoje analisando a minha prática percebo que não estava preparada para lidar com a pessoa com deficiência e que obrigatoriamente, nos cursos de graduação e, mais especificamente, nas licenciaturas deveria ter uma disciplina que abarcasse a questão inclusão.
Por esse motivo resolvi mudar a proposta da minha monografia de gestão escolar para educação inclusiva, além de me matricular na disciplina de Psicologia e Diversidade Pessoa com Deficiência. Talvez para entender que, segundo Jorge Luis Borges (1995) ser deficiente é “... um modo de vida” entre tanto outros.

BORGES, Jorge Luis. “La Cegueira”. In ____. Siete Noches. Madrid: Alianza Editorial, 1995.


Discente: Évelin Feiffer C.Santos

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