quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

NA MINHA ESCOLA TODO MUNDO ENTRA?

UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Educação Especial – MEC. 
Vídeo produzido pelo MEC sobre educação inclusiva.

            De acordo com a revista Inclusão (2005), nas últimas duas décadas, a educação de alunos com necessidades educacionais “especiais” que, historicamente, se pautava num modelo de atendimento discriminatório, tem se direcionado para a Educação Inclusiva. Tal proposta ganhou impulso, sobretudo, a partir da segunda metade da década de 90, através da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) que, entre outros aspectos, propõe que “as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas devem se adequar...”, pois tais escolas “constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, (…) construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos...”. 
            O objetivo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborada pelo grupo de trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 05 de junho de 2007, consiste no acesso, participação e aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promoção de respostas às demandas educacionais especiais, garantindo:
→ Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior;
→ Atendimento educacional especializado;
→ Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;
→ Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar;
→ Participação da família e da comunidade;
→ Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; 
→ Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.
       Com base nos dados preliminares do Censo Escolar de 2012, verificou-se o crescimento do sistema de educação especial, uma vez que o total de matrículas subiu de 584.124 para 628.768 (uma variação de 7,6%), apresentando queda apenas na educação infantil. Segundo os dados, mais de meio milhão de deficientes estão matriculados no ensino fundamental, um aumento de 7,7%. O mais alto crescimento no número de matrículas em educação especial, porém, ocorreu no ensino médio: um aumento de 24,9%. Ocorreram quase oito mil matrículas a mais entre os últimos dados de 2011 e os resultados preliminares de 2012 (Site G1).
              Assim, podemos concluir que tais políticas de inclusão, de fato, surtiram efeitos quantitativos significantes. Acreditamos, no entanto, que o aumento do número de matriculados não configura necessária inclusão, uma vez que diversos fatores devem ser considerados para que se possa realmente afirmá-la.  Pensamos que, para além da admissão, devam ser criadas condições para permanência e “real” aprendizagem dos estudantes deficientes e que, para tanto, sejam levados em conta princípios como capacitação de professores, ensino em libras e braile, acesso a materiais adequados, acessibilidade arquitetônica, entre outros.
            Enquanto futuras Psicólogas, sabemos da importância da profissão diante da busca por uma educação que não apenas se denomine inclusiva, mas que de fato o seja. Nas leituras feitas pelo grupo sobre a atuação do Psicólogo no ambiente escolar/educacional foram notadas algumas necessidades em relação às disciplinas acadêmicas de sua formação que tratem do assunto de inclusão das diferenças e alguns desafios enfrentados sobre a atuação em si. No que concerne à demanda de disciplinas sobre o tema, na própria Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) só contamos com uma disciplina optativa, o que já denota essa escassez.
            Apesar dessa dificuldade na formação, sabemos que somos incumbidas a trazer à tona, no contexto escolar, discussões acerca das representações sociais do deficiente, abarcando temas como estereótipos e preconceitos, com vistas à desconstrução dos mesmos e ao desenvolvimento de melhores formas para se lidar com as diferenças que possam existir no ambiente escolar.
      Acreditamos que outra importante atribuição que podemos assumir diz respeito a ações que proporcionem empoderamento aos deficientes, para que estes se tornem sujeitos ativos no processo de inclusão, no sentido de que os próprios deficientes devem posicionar-se a respeito do melhor modo para se estar lidando com suas diferenças. Além disso, é imprescindível que o deficiente esteja “socialmente livre” para que, diante das limitações que possam emergir, sintam-se aptos a lidar com as mesmas, e para que as limitações diante de alguma situação não sejam impostas pela sociedade segregadora, mas sejam experimentadas pelo próprio deficiente em contato direto com a situação.
     O apoio psicológico às famílias, aos professores e orientadores para lidar com os diferentes modos de ensinar e assistir aos alunos deficientes também é um outro encargo que podemos assumir. Com o embasamento teórico e prático de que pretendemos dispor, será importante prestar auxílio ao sujeito deficiente para que ele consiga lidar com as dificuldades encontradas pelo mesmo em relação ao meio, e do meio para com ele no cotidiano escolar.
       Maria da Glória Barbosa Fontes Pinho é professora Pedagoga com curso de extensão em Tecnologias Digitais Acessíveis, professora há 24 anos, intérprete de libras, trabalhou na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e possui experiência com educação inclusiva. Em entrevista, perguntamos sobre sua experiência e posicionamento em relação à educação inclusiva. Segue a sua contribuição ao blog:
Após 17 anos exercendo minha função de professora em uma Escola Especial, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE/Jacobina-BA tive a oportunidade de trabalhar durante 06 meses em uma Unidade Escolar com propostas de Educação Inclusiva. No primeiro momento que recebi o convite, estava lotada numa Unidade de Ensino Regular trabalhando numa classe de 30 alunos, inseridos a esta realidade 12 alunos com deficiências diversificadas, além de alunos com déficit de aprendizagem. Considerando toda a minha experiência de APAE, não conseguia desenvolver um trabalho que direcionasse a uma Escola Inclusiva, haja vista que, o número de alunos matriculados não me oferecia ou garantia desenvolver um trabalho com excelência e qualidade; então, para mim, foi motivo de contentamento receber este convite da Secretária de Educação já que sou uma professora que tenho como paixão trabalhar com Educação Especial dentro de um contexto e um paradigma que todos devem estar inseridos no mundo por igual. Não relutei em aceitar, porém ao chegar a este novo trabalho, aos poucos fui tentando entender: como se faz uma Educação Inclusiva com alunos inseridos a uma realidade bem distante da sua? Já que para cada sala de 35 a 37 alunos estavam inseridos um ou dois alunos com “necessidades especiais”, e além de toda esta situação, a Inclusão Social Escolar ainda não se caracterizava dentro dos segmentos de uma verdadeira Inclusão Social, com salas adaptadas, professores especializados, materiais acessíveis a todas as deficiências, uma escola que esteja ligada a todas as pessoas que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade e da Comunidade Escolar. Ainda assim, realizei meu trabalho fazendo validar todo o meu aprendizado ao longo dos 17 anos de estudos na APAE e com a propriedade adquirida no meu curso de Pedagogia na UNEB (Universidade do Estado da Bahia) - Camus IV “Programa Rede UNEB - 2000.” Não foi possível continuar este trabalho; por questões de força maior fui transferida novamente para a Unidade escolar anterior com uma nova função: Diretora. Se existem as leis específicas para cada área, as que tratam da inclusão de pessoas com deficiência no âmbito escolar ainda não estão sendo cumpridas. Por estes motivos diria a vocês: minha experiência não foi algo positivo; acredito que em Jacobina e em outros lugares da Bahia ou do Brasil, quem sabe, ainda não estão, de fato, fazendo a verdadeira Inclusão Social, e o que me deixa mais triste é saber que estamos vivendo o século da Inclusão, onde todos devem estar inseridos por igual dentro da sociedade, onde já se fala com conhecimento da acessibilidade, um direito garantido a “todos”.



Maria da Glória Barbosa Fontes Pinho, 02/02/2013, 18:00 horas.

Licenciatura Plena em Pedagogia nas séries iniciais do ensino fundamental. Curso de extensão em LIBRAS - Línguas Brasileiras de Sinais e em Tecnologias Digitais Acessíveis.



LINKS RECOMENDADOS:
Reportagem do G1/Bahia, que relata a história de uma mãe que não consegue matricular sua filha, pré-adolescente, com síndrome de Down, em escolas particulares de Salvador-BA, para o ano letivo de 2013.

Documentário: Não sei fazer isso, mas sei fazer aquilo, produzido pela HBO, o qual relata a experiência de crianças que conseguiram se adaptar as limitações provocadas por deficiências, expressando outras habilidades próprias.

Educação Inclusiva – Maurício de Souza & Turma da Mônica. Relata o respeito às diferenças e à inclusão de crianças deficientes em todas as atividades comuns à infância, de acordo com cada limitação.

Por Dentro da Escola: Educação Especial Inclusão – TV Paulo Freire. Mostra a realidade de uma escola que se adequou a política de Educação Inclusiva, e possibilitou um maior aproveitamento pelos alunos.


REFERÊNCIAS:
Declaração de Salamanca, disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.pdf
Acesso em 02/02/2013

Revista Inclusão, disponível em:
Acesso em 02/02/2013

Disponível em:
Acesso em 02/02/2013

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, disponível em: 

Equipe: Evelline Ferreira de Brito, Isabella Cazuza Callou, Maria de Lourdes Gama Fontes e Tamise Mendes Bastos.

Fonte (imagens): 
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRs3IE36mCSlpYZCGMQWoue9ShZJ1SGJA59PaycAe4Caj_y8CEF 
http://paralisiacerebraletecnologiasassistivas.pbworks.com/f/1175697093/Fisioterapia_10.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário