quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CINEMA E PESSOA COM DEFICIÊNCIA - PARTE 4



·                   JANELA DA ALMA

O filme é composto de 19 depoimentos de pessoas com problemas visuais, falam como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo, fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão: o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade ­ se é que ela é a mesma para todos. A idéia surgiu da vivência do diretor João Jardim, que achava que o fato ter uma miopia muito grande teria influenciado em sua personalidade e até mesmo em sua vida.

"Janela da Alma", de João Jardim e Walter Carvalho é um documentário, seu título faz referência à frase de Leonardo da Vinci: o olho é a janela da alma, o espelho do mundo. Segundo o artista, “O que há de admirável no olho é que através dele – de um espaço tão reduzido – seja possível a absorção das imagens do universo. De sorte que esse órgão – um entre tantos – é a janela da alma, o espelho do mundo.” 
São várias entrevistas entre artistas, entre eles: o escritor José Saramago, Hermeto Pascoal (músico),  o poeta Manoel de Barros, a cineasta Agnès Varda, intelectuais como o neurologista inglês Oliver Sacks e pessoas em geral da Europa e do Brasil. Questionaram à diversas áreas a respeito da visão, entre elas: filosofia, medicina,  biologia, música e à literatura.

Os diversos depoimentos e narrativas a cerca de sua percepção e de seu problema de vista tornam o documentário atraente e não cansativo. Ao passo em que as imagens são colocadas e desfocadas, fazendo menção a forma como são vistas pelas pessoas que estão falando, a gente vai se envolvendo e conseguindo pensar sobre as diversas formas de visão, que na verdade são construídas a partir de uma vista mais ou menos acurada e socialmente construídas.
Leva-nos a pensar se realmente existe verdade real ou nosso olhar está dependente de formas prontas existentes?  Olhar, perceber, ver... fazem parte de uma visão de mundo que é construída, e como produto de construção assim também vem a ser a nossa visão cerca da deficiência e da pessoa acometida por ela, cabendo a quem tem a sensibilidade e conhecimento o poder de transformar a atual realidade para que o mundo torne-se um ambiente mais tolerável,  Vamos, pois ampliar as nossas visões para que não sejamos limitados ao que está posto!



·                    A COR DO PARAÍSO

Mohammad um menino cego, sai de uma escola para deficientes visuais para voltar para sua pobre casa e conviver com a avó e suas duas irmãs. Mas o pai viúvo o vê como um problema e faz tudo para se livrar dele.


Um menino cego que vê sentido em mínimas coisas ao seu redor e enxerga o mundo através das suas mãos e dos sons da natureza. É um filme iraniano, de estrutura simples, diferentemente das obras hollywoodianas, talvez por isso alvo de muitas críticas pela simplicidade, mas que nem por isso deixa de mostrar nas entrelinhas sua grandeza nas lições sutis que nos passa. A cor do paraíso foi premiado internacionalmente em Londres, Boston e San Diego.
Com o intuito de nos mostrar a importância dos sentidos, a obra é comovente, enquanto sua avó e irmãs tratam Mohammad de forma natural, como um ser de possibilidades, por outro lado o pai o percebe como um verdadeiro castigo, reclama-se da vida e da má sorte por ser viúvo e ter um filho deficiente, é num ato egoísta que o pai afasta o filho do seio familiar contra a vontade/permissão da avó. Esta por sua vez fica muito abalada e doente com a situação.  Um pai extremamente egoísta vê a cegueira do filho como um grande empecilho para a vida da família e essa falta de visão por parte do pai o leva a todo tempo a buscar formas de se livrar dele.

A cor do paraíso fala-nos da falta de perspectivas, de imensas impossibilidades e da terrível ignorância em torno da pobreza e da deficiência. A grande lição talvez, seja a simplicidade com que a avó lhe permite sentir o mundo e a alegria que ele sente ao ser tratado de forma extremamente amorosa, aprendendo e ensinando com sua cegueira.
Na cultura na qual o filme foi feito a deficiência de fato ainda é um certo “castigo”, tipo de maldição, isso vem a justificar a atitude do pai, mas em sociedades aonde não existe tal crença, sociedades consideradas modernas em que se fala tanto em acessibilidade, é muito perceptível que crianças cegas passem pelas mesmas condições de Mohammad tanto dentro da família, como nos espaços sociais em geral. Ser digno de pena, alvo de vergonha ou  invisibilidade é um dos maiores problemas para pessoas com deficiência.


Equipe: Fabiana Miranda, Fabrício Magalhães, Grécia Nonato, Lorena Tínel e Mariany Carneiro

"Cinema é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa alma". (Ingmar Bergman)




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